De acordo com o IAV-IDV (Índice Antecedente de
Vendas), indicador mensal que mede a atividade do varejo, os lojistas esperam
queda real nas vendas de 0,2% em julho, em relação ao mesmo mês de 2014. No
acumulado do primeiro semestre, o índice acumulou retração de 0,9% ante o ano
anterior.
Segundo Ladvocat, em épocas de crise, o mercado de
produtos costuma ser afetado mais rapidamente do que o de serviços. “De uma
maneira geral, o setor de produtos é mais afetado que o de serviços. É mais
fácil o consumidor comprar uma camisa mais barata do que mudar de barbearia”,
exemplifica o professor.
Ainda segundo Aldo Gonçalves, da CDL Rio de Janeiro,
o setor de vestuário e calçados, considerado mais supérfluo, costuma sofrer
mais. “A prioridade do consumidor é comida e remédio, depois vem a escola das
crianças. Esse comércio de moda, de acessórios está sofrendo mais”, afirma.
Com o salário corroído por uma inflação que soma
9,56% nos últimos 12 meses e o aumento do desemprego para 6,9%, as famílias
começam a valorizar mais os preços dos produtos na decisão de compra. Este
fator, que já pesa para as classes C, D e E, fica ainda mais preponderante. E
até as classes mais abastadas repensam suas estratégias de compra.
“O preço
ganhou relevância para todas as classes sociais. Onde já era importante, se
tornou ainda mais. Nas classes A e B, se aproximou da qualidade como fator mais
importante na decisão de compra”, diz Christian Travassos, gerente de Economia
da Fecomércio RJ.
Um alívio temporário para o comércio deve vir com o
resultado do Dia dos Pais, comemorado hoje. A data deve injetar R$3,8 bilhões
no comércio brasileiro, segundo a Fecomércio-RJ. O valor médio do presente
subiu para R$ 82 neste ano, ante R$ 75 no ano passado. “O consumidor está mais
seletivo e colocou o pé no freio, comprando de forma espaçada. Ficou com margem
maior para compras pontuais”, explica Travassos.
Consumidor
muda hábitos e segura
dinheiro
na carteira para não gastar
Além de esticar o período de ofertas, muitas lojas
têm concedido descontos agressivos. Na Importex do Centro, o rebaixamento de
preços chega a 80% em algumas peças. Mesmo assim, o movimento não chegou a se
igualar ao do ano passado. “O movimento está fraquíssimo. Ano passado eu
consegui bater metas, este ano ainda não”, diz a vendedora Cristina Bringuel,
36 anos.
Para especialistas, a tática de ampliar as
liquidações é a mais usada em tempos de crise, mas pode se desgastar. Isso
porque o consumidor percebe rapidamente o movimento e acaba adotando a
estratégia de não comprar peças de coleções novas, pois já sabe que em breve os
preços serão rebaixados.
“O consumidor aprende muito rápido quando pode levar
alguma vantagem. Este é o primeiro risco. O segundo é de quebrar o valor das
marcas, ou seja, o comprador passar a valorizar onde está mais barato do que a
marca que ele está comprando, a loja, a qualidade de atendimento. Isso acaba
nivelando todos por baixo”, afirma o professor Ricardo Ladvocat, da ESPM Rio.
A auxiliar-administrativa Adriele Soares, 27, tem
paixão por sapatos, mas costuma procurar por ofertas para poder continuar
comprando. “Costumo esperar porque sei que os preços sempre caem depois de um
tempo”, afirma ela, que aproveitou a liquidação de uma loja de sapatos no
Centro para arrematar uma bota por R$ 100. “Não resisto a sapatos. Vi uma bota
parecida com esta por R$ 300, mas optei por uma marca mais barata”, afirma.
A cautela na hora de comprar pode ser facilmente
percebida por um passeio nas ruas do Centro. Apesar dos anúncios chamativos
para os descontos, as lojas estão vazias. “As vitrines estão sempre com
liquidações e sempre vazias. Eu mesmo não comprei nada este ano”, afirmou a
cabeleireira Sônia Vera da Cruz.
Já a dentista Solange Barbosa, 57, reduziu ao máximo
as compras por impulso. “Este ano só comprei coisas que estava realmente
precisando. Até na liquidação, vejo as pessoas comprando menos”, afirma.
Fonte: Site CNTC/Brasil Econômico
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