O conselho dado por todos os especialistas
financeiros, de começar o ano com as contas em dia, ficou mais difícil de ser
seguido em 2016 devido à alta dos preços e do desemprego e do crédito caro.
Analistas acreditam que as contas de janeiro, como impostos e rematrícula
escolar, devem pesar mais neste ano por conta do cenário econômico. A Boa Vista
SCPC já espera um aumento da inadimplência nos próximos meses.
“As linhas de crédito estão mais difíceis do que há
um ano e houve deterioração do poder de compra. Esses dois grandes motivos vão
dificultar o que normalmente já é pesado para o consumidor: as contas de
janeiro”, diz o diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti. Ele
lembra que os salários vinham tendo ganho real até 2014, mas que desde então
têm perdido para a inflação, que deve fechar 2015 com alta de mais de 10%.
O terceiro fator que assombra as famílias é o
desemprego. “Geralmente, o brasileiro saia de dezembro com uma renda extra do
13º salário, comissão de vendas ou até de um emprego temporário”, comenta o CEO
do GuiaBolso, Thiago Alvarez. A situação atual é bem diferente: o desemprego
subiu, as vagas temporárias secaram e as comissões acompanharam a queda das vendas
e diminuíram.
Economista da Boa Vista SCPC, Flávio Calife comenta
que historicamente há um aumento da inadimplência nos meses de abril e maio e
que em 2016 o fenômeno deve voltar a ocorrer, pois o orçamento anda apertado e
alguns itens, como matrícula escolar, serão reajustados pela inflação.
Atualmente, a taxa de inadimplência de pessoas físicas está em 5,8%, segundo o
Banco Central.
A boa notícia é que, em média, o valor do Imposto
sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) em São Paulo ficou 3,3% mais
barato neste ano, aponta uma pesquisa da Fipe. A crise no setor automotivo fez
o preço dos carros cair, impactando o imposto, que representa entre 1% e 4% do
valor do veículo.
Forma de pagamento. Assim como em outros anos, o
pagamento de impostos à vista tem desconto. No caso do IPVA em São Paulo, o
proprietário do veículo pode pagar à vista e ter um abatimento de 3% ou
parcelar o montante em três vezes, mas pagando o tributo integral. Em alguns
Estados, o desconto chega a 10%. Se optar por parcelar, o pagamento varia
conforme a placa do veículo (a primeira parcela de carros com final 1 já vence
na próxima segunda-feira, dia 11). No Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU) da cidade de São Paulo, o desconto é de 5%. Se parcelar, o valor pode
ser dividido em dez vezes.
Mas se houver sobra de dinheiro e a quantia não for
comprometer o orçamento, a opção mais indicada é pagar em uma única parcela
para começar o ano sem dívidas. A alternativa seria parcelar o imposto e tentar
aplicar o dinheiro em um investimento seguro e com retorno superior ao desconto
oferecido. Ou seja, algo que rendesse mais de 0,9% ao mês.
A caderneta de poupança não é opção, já que paga bem
menos que essa taxa. Mas especialistas afirmam que, com a alta do juro e a
renda fixa mais interessante, é possível encontrar aplicações com esse retorno.
O que ocorre na prática, porém, é que as pessoas não são disciplinadas. “O
consumidor parcela e depois na hora de pagar vê que não investiu o dinheiro,
gastou em outras coisas”, diz Alvarez.
Para a Boa Vista, a decisão entre pagar à vista e
parcelar deve ser mais orçamentária do que financeira. “O pagamento à vista
vale a pena, mas se a pessoa achar que o desembolso do dinheiro de uma só vez
vai comprometer outros pagamentos, que vai ficar apertado, o melhor é parcelar
para não ficar inadimplente ou ter de recorrer ao crédito”, afirma Calife.
Nos casos mais graves, em que o consumidor não
consegue pagar a conta nem mesmo parcelando, créditos caros como o cheque
especial devem ser evitados. O ideal é optar pelo financiamento mais barato,
como o consignado. O último levantamento do Banco Central, de novembro, aponta
para um juro de 28,4% ao ano do consignado, ante uma taxa de 287,8% do cheque
especial.
Escola. Em média, as mensalidades escolares em São
Paulo subiram 12% na passagem do ano, segundo um levantamento do Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp). Somada a esta
conta, ainda tem a compra do material escolar, que também ocorre nesta época.
Para não haver descontrole, especialistas sugerem
que os pais tentem negociar um desconto na própria escola. Apesar de ser uma
tarefa difícil, se matricular dois filhos no mesmo local pode haver margem para
uma conversa.
Para livros e material, o jeito é apelar para a comunidade
escolar. “Os pais podem reunir um grupo de vários alunos da mesma sala e fazer
uma compra em grupo na editora ou em papelarias”, recomenda Alvarez. Além
disso, organizar um bazar de livros com ex-alunos da série é interessante, algo
que muitos pais têm buscado neste ano de crise econômica.
A tecnologia também vem para ajudar na busca por
economia. Em sites de trocas de livro, como o Skoob, alunos podem cadastrar
seus próprios exemplares que não serão mais utilizados e trocá-los com outro
usuário interessado. Se não conseguir fazer a chamada troca direta, pode
recorrer ao sistema Plus, também gratuito. Nele, o usuário espera alguém pedir
o seu livro, envia o exemplar, ganha uma moeda online e com ela pode escolher
qualquer outro livro cadastrado no site.
Fonte: O Estadão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário