37,4% da
renda nacional está nas mãos de menos de 4% da população
A
distribuição de renda no Brasil é pior do que se imaginava. Um estudo elaborado
pela Tendências Consultoria Integrada mostrou que a classe A – famílias com
rendimento superior a R$ 14.695 – detém uma fatia ainda maior da massa de renda
nacional.
O levantamento
elaborado pelos economistas Adriano Pitoli, Camila Saito e Ernesto Guedes foi
feito com base nos dados da Receita Federal e mostrou que as 2,5 milhões de
famílias da classe A são responsáveis por 37,4% da massa da renda nacional. Nos
dados mais conhecidos, obtidos por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (Pnad), estimava-se que os mais ricos tenham 16,7% da renda nacional.
Os
economistas chegaram ao novo número sobre distribuição de renda com base numa
espécie de Pnad ajustada. O ajuste foi feito analisando a renda de duas formas.
Para as famílias com ganhos de até cinco salários mínimos, foram utilizados os
dados tradicionais da Pnad. Para as faixas mais ricas, o estudo levou em conta
as declarações de Imposto de Renda.
“Todo mundo
sabia que a desigualdade de renda no Brasil era enorme, mas ela é muito maior
do que se imaginava”, afirma Adriano Pitoli.
Dados
omitidos. A vantagem de analisar os dados da Receita para as classes mais ricas
é explicada pelo fato de a Pnad ser declaratória e, portanto, limitada para
mensurar dados envolvendo fontes de renda com ativos financeiros e aluguéis.
“As
pesquisas declaratórias (como a Pnad) são ineficientes para capturar a renda de
aplicações financeiras, aluguéis e ganhos de capital”, afirma Pitoli. “Na
verdade, ninguém tem esses números de cabeça.”
O
exercício da Tendências deixa evidente a dificuldade da Pnad em apurar o
tamanho da desigualdade brasileira. Nas famílias com renda entre cinco e dez
salários mínimos, a massa de renda apurada pela Pnad é 13% menor do que mostra
o dado da Receita Federal. A diferença é crescente conforme o topo da pirâmide
se aproxima.
Na faixa
de brasileiros com ganhos acima de 160 salários mínimos, a massa de renda
captada pela Pnad é 97% menor do que os dados obtidos pela análise do Imposto
de Renda.
“A
desigualdade com base nos dados da Pnad é menor do que mostram os dados da
Receita”, afirma Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas
Públicas do Insper. “Existe uma dificuldade da Pnad em captar a renda da fatia
mais rica da população.”
Abismo
entre classes. O estudo da consultoria Tendências também chegou a outras duas
conclusões relevantes: o abismo entre as classes sociais é maior do que se
imaginava e as classes A e B são um pouco maiores do que indicavam as pesquisas
tradicionais.
Pela Pnad
tradicional, a classes A responde por 2% do total das famílias brasileiras, e a
classe B, por 12,6%. Nos dados ajustados pela consultoria, a fatia das classes
aumenta para 3,6% e 15%, respectivamente.
Com
relação ao distanciamento entre as classes sociais, o estudo da consultoria
apontou que a renda das famílias da classe A é 40,9 vezes maior do que as da
classe D/E. Na Pnad original, a diferença apurada era de 23,3 vezes.
“A
intenção do estudo não é substituir os dados da Pnad e da Receita. O exercício
é continuar olhando a Pnad para as classes de menor renda, e na faixa das
classes de maior renda fazer os ajustes para eliminar o viés da omissão de
renda”, afirma Pitoli.
Fonte: Estadão
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