Levi Fernandes Pinto
É
chegado o momento de o movimento sindical colocar suas diferenças de lado para
que, de forma pragmática, lute no sentido de garantir direitos conquistados e
proteja os trabalhadores das investidas do empresariado, em busca do corte de
custos e elevação dos lucros.
Em uma democracia como a brasileira, a assunção de
líderes é o resultado da formação de consensos majoritários, respaldados pelos
ditames da Constituição e dos regulamentos infraconstitucionais. Com base
nisso, cabe àqueles que chegam ao comando de instituições representativas atuar
no sentido da união de seus representados, para que a entidade ganhe
legitimidade e seja atuante no cenário nacional.
É certo que a sociedade brasileira passa por
mudanças estruturais, muitas delas positivas como o sistemático aumento da
longevidade de nossa população. Por outro lado, ainda conservamos elementos
arcaicos como uma profunda desigualdade social e regional, assim como condições
injustas de acesso à educação formal e saúde de qualidade. Todas essas questões
em última instância influem na qualidade de vida de milhões de brasileiros, que
contribuem com uma carga tributária centrada no consumo e que pouco protege os
menos favorecidos. É com base nisso que devemos olhar com bastante cautela as
reformas que ora vêm sendo aventadas pelo governo e que contam com o respaldo
dos principais veículos de comunicação do país.
Reforma da previdência, flexibilização da jornada de
trabalho, terceirização das atividades-fim e sobreposição do negociado sobre o
legislado são remédios amargos que objetivam colocar ao sabor da classe
trabalhadora. Estabelecer um teto nos
gastos públicos por duas décadas, em paralelo a uma reforma previdenciária que
elevará o limite de idade para ganho do benefício irá expor os trabalhadores
mais velhos a uma conjuntura de carência no acesso a serviços de saúde e
atenção básica.
A situação torna-se ainda mais dramática ao
analisarmos a pesquisa divulgada pelo IBGE e pelo Ipea, que revela aumento do
trabalho informal no nosso país entre o primeiro e o segundo trimestre de 2016.
No período foram cortadas 226 mil vagas de emprego formal e houve uma expansão
de 668 mil postos de trabalho no mercado informal. Estamos falando de um grande
contingente de trabalhadores que estão trabalhando sem garantias e, quando
retornarem à formalidade, deverão trabalhar por mais tempo para completar o
período mínimo de contribuição. A previdência é também penalizada, pois com
menos trabalhadores na formalidade, cai consequentemente sua arrecadação.
Diante desse cenário sombrio, é chegado o momento de
o movimento sindical colocar suas diferenças de lado para que, de forma pragmática,
lute no sentido de garantir direitos conquistados e proteja os trabalhadores
das investidas do empresariado, em busca do corte de custos e elevação dos
lucros. As lideranças sindicais são a todo momento instigadas por estímulos
vindos das mais variadas fontes a emitir opiniões e propor ações para responder
aos fatos que permeiam nosso dia-a-dia. Radicalismos não resolverão os
problemas. Dessa forma, é na base do diálogo qualificado e da negociação
baseada na proposição de alternativas que se logrará sucesso no sistema das
democracias contemporâneas.
Mas o que isso exige?
É certo que vivemos um governo de muitos.
Poliarquia, diria o cientista político norte-americano Robert Dahl, regime
político marcado pela relação entre entes estatais e múltiplas organizações da
sociedade civil. Assim sendo, em uma república com diferentes possibilidades de
diálogo, o esforço por estabelecer pontes de conversação com segmentos do
cenário político e social requer que muitas vezes deixemos nossas convicções
como cidadãos que somos para que se possa lutar pelos objetivos das
instituições a que representamos. Organizações fortes, com trânsito em
diferentes esferas de poder, têm maior chance de serem ouvidas e terem suas
demandas levadas em consideração.
Convém ao líder sindical não orientar a entidade que
representa com base nas suas paixões e crenças. Sua ação como cidadão ativo
deve ser em sua vida privada e tornar-se apartidário e agregador quando da
missão sindical. Como agente sindical
deve ser imparcial e abrir diálogo com a multiplicidade de ideologias e
opiniões, acolhendo a todos os trabalhadores, em sua segunda casa, o sindicato.
O avanço da democracia significa também a
sofisticação da participação social. Por isso, devemos expor e lutar por nossos
interesses, sem, entretanto, incorrer no fechamento ao diálogo com os tomadores
de decisão. Fazer oposição não necessariamente exige radicalismos. Estamos
todos buscando a construção de um país melhor, o que nos difere são os meios
defendidos para tal.
É por isso que a CNTC, entidade máxima de
representação dos trabalhadores do setor de Comércio e Serviços do Brasil, com
um contingente de mais de 12 milhões de cidadãos, se coloca como entidade
aberta ao diálogo, levando em conta seus princípios indisponíveis que são a
defesa do trabalhador, a constante busca pela melhora nas relações de trabalho
e a defesa de um movimento sindical forte e coerente com suas missões.
. Levi Fernandes Pinto, Presidente da
Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio.
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