sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Sindicalista: pontes de diálogo para evitar o conflito entre o cidadão e o dirigente sindical


                                                        Levi Fernandes Pinto
                                                                                               
É chegado o momento de o movimento sindical colocar suas diferenças de lado para que, de forma pragmática, lute no sentido de garantir direitos conquistados e proteja os trabalhadores das investidas do empresariado, em busca do corte de custos e elevação dos lucros. 

Em uma democracia como a brasileira, a assunção de líderes é o resultado da formação de consensos majoritários, respaldados pelos ditames da Constituição e dos regulamentos infraconstitucionais. Com base nisso, cabe àqueles que chegam ao comando de instituições representativas atuar no sentido da união de seus representados, para que a entidade ganhe legitimidade e seja atuante no cenário nacional.
É certo que a sociedade brasileira passa por mudanças estruturais, muitas delas positivas como o sistemático aumento da longevidade de nossa população. Por outro lado, ainda conservamos elementos arcaicos como uma profunda desigualdade social e regional, assim como condições injustas de acesso à educação formal e saúde de qualidade. Todas essas questões em última instância influem na qualidade de vida de milhões de brasileiros, que contribuem com uma carga tributária centrada no consumo e que pouco protege os menos favorecidos. É com base nisso que devemos olhar com bastante cautela as reformas que ora vêm sendo aventadas pelo governo e que contam com o respaldo dos principais veículos de comunicação do país.
Reforma da previdência, flexibilização da jornada de trabalho, terceirização das atividades-fim e sobreposição do negociado sobre o legislado são remédios amargos que objetivam colocar ao sabor da classe trabalhadora.  Estabelecer um teto nos gastos públicos por duas décadas, em paralelo a uma reforma previdenciária que elevará o limite de idade para ganho do benefício irá expor os trabalhadores mais velhos a uma conjuntura de carência no acesso a serviços de saúde e atenção básica.
A situação torna-se ainda mais dramática ao analisarmos a pesquisa divulgada pelo IBGE e pelo Ipea, que revela aumento do trabalho informal no nosso país entre o primeiro e o segundo trimestre de 2016. No período foram cortadas 226 mil vagas de emprego formal e houve uma expansão de 668 mil postos de trabalho no mercado informal. Estamos falando de um grande contingente de trabalhadores que estão trabalhando sem garantias e, quando retornarem à formalidade, deverão trabalhar por mais tempo para completar o período mínimo de contribuição. A previdência é também penalizada, pois com menos trabalhadores na formalidade, cai consequentemente sua arrecadação.
Diante desse cenário sombrio, é chegado o momento de o movimento sindical colocar suas diferenças de lado para que, de forma pragmática, lute no sentido de garantir direitos conquistados e proteja os trabalhadores das investidas do empresariado, em busca do corte de custos e elevação dos lucros. As lideranças sindicais são a todo momento instigadas por estímulos vindos das mais variadas fontes a emitir opiniões e propor ações para responder aos fatos que permeiam nosso dia-a-dia. Radicalismos não resolverão os problemas. Dessa forma, é na base do diálogo qualificado e da negociação baseada na proposição de alternativas que se logrará sucesso no sistema das democracias contemporâneas.

Mas o que isso exige?

É certo que vivemos um governo de muitos. Poliarquia, diria o cientista político norte-americano Robert Dahl, regime político marcado pela relação entre entes estatais e múltiplas organizações da sociedade civil. Assim sendo, em uma república com diferentes possibilidades de diálogo, o esforço por estabelecer pontes de conversação com segmentos do cenário político e social requer que muitas vezes deixemos nossas convicções como cidadãos que somos para que se possa lutar pelos objetivos das instituições a que representamos. Organizações fortes, com trânsito em diferentes esferas de poder, têm maior chance de serem ouvidas e terem suas demandas levadas em consideração.

Convém ao líder sindical não orientar a entidade que representa com base nas suas paixões e crenças. Sua ação como cidadão ativo deve ser em sua vida privada e tornar-se apartidário e agregador quando da missão sindical.  Como agente sindical deve ser imparcial e abrir diálogo com a multiplicidade de ideologias e opiniões, acolhendo a todos os trabalhadores, em sua segunda casa, o sindicato.

O avanço da democracia significa também a sofisticação da participação social. Por isso, devemos expor e lutar por nossos interesses, sem, entretanto, incorrer no fechamento ao diálogo com os tomadores de decisão. Fazer oposição não necessariamente exige radicalismos. Estamos todos buscando a construção de um país melhor, o que nos difere são os meios defendidos para tal.

É por isso que a CNTC, entidade máxima de representação dos trabalhadores do setor de Comércio e Serviços do Brasil, com um contingente de mais de 12 milhões de cidadãos, se coloca como entidade aberta ao diálogo, levando em conta seus princípios indisponíveis que são a defesa do trabalhador, a constante busca pela melhora nas relações de trabalho e a defesa de um movimento sindical forte e coerente com suas missões.

.  Levi Fernandes Pinto, Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio.


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