Os economistas já afirmam quase
unanimemente que a economia bateu no fundo do poço e começa a reagir. Dos 10
principais setores que fazem a roda do crescimento girar, 7 já esboçam
recuperação, segundo levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mas
há outro consenso entre os especialistas: a robustez e a velocidade da retomada
estão nas mãos do governo. O ponto de partida de um novo ciclo virtuoso é o
ajuste fiscal nas contas públicas. Na avaliação geral, o ajuste será
deslanchado após o julgamento do impeachment, nesta semana, com a definição de
quem por direito tem aval para bancar medidas duras de cortes de gastos.
Prévias do Produto Interno Bruto (PIB) já
mostram que alguns setores, em especial na indústria, reagiram no segundo
trimestre. A expectativa é que os dados oficiais do PIB, que serão divulgados
nesta semana, já apontem uma retração menor da economia, perto de 0,2%.
Economistas ouvidos pelo Estado estimam
que devem contribuir para esse resultado reações pontuais, como a alta média de
2,4% em têxteis e calçados e de 0,9% no setor automotivo, em especial graças às
exportações. Também deve pesar a favor o avanço de 1,3% no setor químico,
impulsionado pela reposição de estoques. Outros setores tiveram crescimento
zero, o que é bom, pois indica que a atividade deixou de se contrair e pode
voltar a crescer, caso de construção e metalurgia.
Caio Megale, economista do Itaú Unibanco,
lembra que a recuperação econômica virá de duas frentes. Uma parte, diz, ficará
por conta da “regeneração natural do tecido econômico”. Nesse caso, cumpriu-se
um ciclo: a recessão derrubou o consumo e a produção, o que levou ao uso de
estoques. Gradativamente, a produção é retomada, mas para atender a um consumo
menor. Nesse processo, o câmbio cedeu, favorecendo a produção voltada à
exportação.
Foi esse fenômeno natural que levou a
indústria em geral a apresentar crescimento em volume físico de 1,2% no segundo
trimestre, o primeiro saldo desde junho de 2013. “Os eventos esportivos
pautaram a recessão: ela começou depois da Copa e tudo indica que se encerra na
Paralimpíada”, diz Megale.
Três motores fundamentais da economia,
porém, estão desligados: óleo, gás e biocombustíveis têm retração de 5,5% e a
agropecuária, de 0,5%. Preocupa o comércio, com queda de 0,4%, item do setor de
serviços, que sozinho sustenta dois terços do crescimento. “O setor de serviços
depende do consumo das famílias, que deve continuar deprimido”, diz Silvia
Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio
Vargas (Ibre/FGV).
Fiscal. Mas a recuperação natural da
economia só vai se sustentar se for acompanhada pelo ajuste fiscal, dizem os
economistas. A razão é simples. As contas públicas balizam a percepção de risco
dos investidores em relação à capacidade de o governo pagar a dívida pública.
Contas no azul, risco menor. Contas no vermelho – como agora –, risco maior. A
percepção de risco também influencia a taxa de juros.
Esses, por sua vez, balizam o crédito,
fundamental para amparar consumo e investimento, molas propulsoras do
crescimento. “O ajuste fiscal é a primeira condição para o crescimento – e isso
está na mão do governo”, diz o economista Affonso Celso Pastore, sócio-fundador
da A.C. Pastore & Associados e ex-presidente do Banco Central.
Mas os economistas alertam que não pode
ser qualquer ajuste. Se for capenga, jogará o País no marasmo, com PIBs anuais
na casa de 1%. Mas um ajuste bem conduzido fará o inverso. “O PIB pode crescer
de 2% a 3% no ano que vem, se o governo entregar o ajuste que promete”, diz
Bráulio Borges, economista sênior da LCA consultores.
Confiança e crédito são as bases para um
novo ciclo
Para dar uma ideia do papel do ajuste
fiscal na retomada do crescimento, o economista Affonso Celso Pastore,
sócio-fundador da A.C. Pastore & Associados, compara a atual recessão com a
crise de 2008. Lá atrás, o consumo das famílias, o principal motor da economia
brasileira, caiu 2% no quarto trimestre. Mas se recuperou logo porque os bancos
não cortaram o crédito.
No ciclo recessivo atual, a economia
degringolou após um período de euforia. Famílias compraram em excesso, empresas
expandiram os negócios e até segmentos da agropecuária se financiaram para
comprar mais terras. Todo mundo estava endividado. O súbito arrocho levou à inadimplência,
seguida de uma onda de recuperações judiciais no setor privado e retração no
crédito. Agora, prevalece a corda no pescoço, segurando consumo e investimento.
Para destravar o mercado interno, é preciso afrouxar o nó. “A taxa de juros
precisa cair e o crédito, voltar – e isso depende do ajuste”, diz
Pastore.
Para o economista Bráulio Borges, da LCA,
o ajuste alimenta outro fator decisivo: a confiança. Segundo Borges, foi a
retomada da confiança que tirou o Brasil da recessão em outros momentos da
história. “O novo governo precisa entregar as reformas que está prometendo.
Assim, o risco país pode cair mais, o câmbio fica estável, a inflação cede, o
Banco Central pode cortar os juros. Ou seja, alimenta-se a ideia de que o
futuro é previsível, o que fortalece a confiança.”
Fonte: Estadão/UGT
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