A procuradoria geral do Trabalho
denunciou o empresário Flávio Rocha ao Ministério Público Federal por crime de
incitação à violência, coação no curso do processo, difamação e injúria. A
denúncia é uma reação às declarações ofensivas do proprietário do grupo
Guararapes Confecções SA e das lojas Riachuelo, divulgadas em redes sociais e
pela imprensa tradicional, contra a procuradora do Trabalho Ileana Neiva. O
empresário chegou a apagar de suas redes sociais algumas das mensagens
direcionadas à procuradora e publicou um pedido de desculpas após a repercussão
negativa das declarações.
Ileana Neiva integra o grupo de oito
procuradores responsável pela ação civil pública que cobra na Justiça R$ 37,1
milhões em indenização à Guararapes pelo descumprimento de leis trabalhistas na
contratação de costureiras para trabalhar em facções no interior do Rio Grande
do Norte.
A ação civil pública contra a
Guararapes foi ajuizada pelo MPT em maio deste ano, mas desde a semana passada
o empresário Flávio Rocha passou a atacar pessoalmente a procuradora Ileana
Neiva, acusando-a, juntamente com o Ministério Público, de perseguição. O
procurador geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, classificou a atitude do
proprietário do grupo Guararapes de “absolutamente desproporcionada e
criminosa” e confirmou que a PGT levará o caso adiante.
– Entramos com uma notícia-crime
contra o empresário Flávio Rocha junto ao Ministério Público Federal, que agora
vai analisar se há indícios de crime para abrir ou não uma ação penal contra
ele. As ofensas pessoais e a incitação à violência foram atitudes absolutamente
desproporcionadas e, sob o nosso ponto de vista, criminosas com relação à
procuradora Ileana Neiva e ao MPT como um todo. Tenho 23 anos no Ministério Público
e nunca vi uma reação como essa. Não sei se estão fazendo uso político dessa
situação ou se é uma tentativa de intimidação do Judiciário. Mas se acham que
vamos desistir, é uma loucura. Bastava ter um mínimo de bom senso para saber
que isso não iria acontecer. Já deixei claro que não vamos desistir.
A denúncia apresentada pela
procuradoria geral do Trabalho é uma notícia-crime. A partir de agora, o
Ministério Público Federal vai analisar o processo para saber se dá
prosseguimento e transforma a denúncia numa ação penal contra o empresário
Flávio Rocha.
O presidente da Associação Nacional
dos Procuradores do Trabalho Angelo da Costa afirmou que a entidade dará toda a
assistência à procuradora Ileana Neiva, que também deve entrar pessoalmente com
uma ação por dados morais em razão dos crimes de calúnia e injúria.
– A ofendida (procuradora Ileana
Neiva) fará uma representação que ainda tem um agravante porque, no curso do
processo institucional, quando a injúria e a difamação é contra um servidor
público, passa a ser uma ação pública também. A ANPT reforçará, inclusive
estamos estudando a possibilidade de ingressar com uma ação de indenização por
danos morais, a partir do desenrolar dessas ações.
Departamento produtivo
A empresa Guararapes Confecções SA é
acusada de subcontratar trabalhadoras, mantendo sob seu domínio o controle
econômico, administrativo e operacional das facções. Na ação do MPT, os
procuradores apontaram várias irregularidades na garantia de direitos das
costureiras:
– Não há, nos contratos firmados,
nenhuma garantia de demanda mínima de serviço, de modo que essas empresas
funcionam em estado de profunda dependência econômica da contratante, sob seu
estrito controle operacional, com reduzidíssima margem de lucro projetada,
destituídas de qualquer lastro financeiro para negociar melhores condições de
trabalho e para investimento em saúde e segurança do trabalhador. A Ré controla
o emprego e desemprego de mão de obra na empresa contratada, na medida em que
define unilateralmente a demanda de serviço destinada a cada empresa de facção,
determinando o destino e a sorte dessas pequenas unidades fabris,
economicamente dependentes da tomadora.
Os procuradores chegaram à conclusão
de que as empresas de facção, na verdade, funcionam como verdadeiros
departamentos produtivos da empresa contratante, inteiramente integrados à sua
dinâmica empresarial, apenas com personalidade jurídica própria e vinculados
contratualmente para disfarçar a real subordinação operacional, produtiva e
econômica à Guararapes. Para o MPT, a empresa acusada tenta driblar a
legislação para reduzir custos.
– Ao remeter às facções a estrutura
empresarial destinada à costura de roupas, mantendo, no entanto, sobre elas
rígido controle administrativo e operacional, a Guararapes simula o mecanismo
de externalização de serviços para reduzir o custo de produção, isentar-se do
risco da atividade econômica e evadir-se de obrigações fiscais e trabalhistas.
Com isso, deixa de admitir diretamente os empregados e de arcar com seus
direitos trabalhistas e se omite do dever legal de garantir a adequação do meio
ambiente de trabalho em que se desenvolve a atividade central de seu objeto
social, em profundo prejuízo ao cumprimento dos direitos fundamentais dos
trabalhadores (Constituição, art. 7º).
Fonte: site UGT
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