Apesar da
população negra representar 54% dos cidadãos, no Brasil o acesso a melhores
condições de vida ainda são negados, segundo dados de 2016 do IBGE – Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Conforme o levantamento, os negros
são as maiores vítimas de assassinatos: a cada 23 minutos um jovem negro é
morto. A cada dia, são 66 vidas perdidas, totalizando 4.290 óbitos por ano. Um
rapaz negro tem até 12 vezes mais chances de ser assassinado em relação a um
branco. Em comum nesses homicídios, está a presença do racismo. Seus salários
também são inferiores aos dos brancos e ainda convivem com os maiores índices
de desemprego.
No campo
político os negros ainda não possuem representatividade em equilíbrio e boa
parte das conquistas foram obtidas pela luta dos movimentos sociais
organizados. Para mudar essa realidade o senador Paulo Paim (PT-RS) destaca a
importância do fortalecimento da educação no país.
“São
campanhas que nós teríamos que fazer de formas integradas com o Executivo,
Legislativo, Judiciário, com os meios de comunicação, na sociedade em geral
para de uma vez por todas mostrarmos que a capacidade de um homem não se mede
pela cor da pele, mas sim pela sua conduta, principalmente em um processo
integrado de formação, discussão, convencimento e de mudar uma cultura atrasada
que nos faz lembrar que o Brasil foi o último país do mundo a abolir a
escravatura. Naquela época, mesmo livre, o negro não tinha direito a estudar,
não tinha direito a nada”, afirmou o senador.
Celebrado
em 21 de março, O Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial foi
instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1976. A ação é uma
referência ao Massacre de Sharpeville, em Joanesburgo, na África do Sul, em
pleno período do apartheid, onde 69 pessoas morreram e 186 ficaram
feridas durante um protesto pacífico interrompido violentamente pela polícia.
Desde
então o dia 21 de março passou a ser uma data para alertar a sociedade que
lutar contra o racismo e promover a igualdade racial é tarefa cotidiana, não só
através de denúncias, mas também atuando junto aos poderes políticos e
econômicos.
“Essa
data é um dia que nas escolas, sindicatos, nos locais de trabalho devemos
refletir o que cada de um de nós está fazendo para combater o racismo e o
preconceito. É aquela frase antiga infelizmente muito utilizada, “negro parado
é suspeito, correndo já é culpado.” Isso é um absurdo. A gente tem que saber
que essa frase ainda circula entre as forças da repressão”, afirmou Paim. O
senador completou ainda que o dia 21 de março é o momento que obriga todos nós
a caminharmos para que o Brasil esteja integrado em uma única nação de negros,
brancos e índios, como diz Martin Luther King, “que possam sentar na mesma mesa
e comer do mesmo pão.”
Ambiente
de trabalho continua a discriminar mulheres negras
O abismo
racial no ambiente coorporativo brasileiro continua profundo. Segundo dados de
pesquisa do Instituto Ethos, realizada em 2016, pessoas negras só ocupam 6,3%
dos cargos de gerência e 4,7% do quadro de executivos nas empresas analisadas
pelo estudo. A situação é ainda mais desigual para as mulheres negras: 1,6% são
gerentes e só 0,4% participam do quadro de executivos.
Coordenadora
executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
(Ceert), Cida Bento, dedica-se há 30 anos ao campo da promoção da diversidade
no ambiente coorporativo. Assim como a sociedade brasileira como um todo, o
ambiente empresarial tem imensas dificuldades em avançar no combate ao racismo,
explica ela, que aponta, por exemplo, o fato de programas de equidade de gênero
serem bem-sucedidas em promover a inclusão de mulheres brancas, mas não das
mulheres negras. “Esse é o grande desafio. As mulheres brancas estão quatro,
cinco vezes a mais do que as negras nesse processo de inserção dentro das
empresas”.
Segundo a
coordenadora, as mulheres em geral sofrem uma exigência de aparência para
ocupar posições dentro das empresas e, as mulheres negras têm uma exigência
ainda maior.
Para
reduzir essa desigualdade com as empresas e o mercado de trabalho, Cida explica
que o censo é fundamental. “Ele ajuda a identificar as diferenças de cargos, de
salários, de inserção, promoções. E ajuda a identificar onde é que estão os
problemas e contribui a desenhar um plano de ação que envolve levar essa discussão
para o interior das empresas e para as altas lideranças, para as áreas
jurídicas entre outras. É preciso uma decisão política da empresa. E isso é
algo bem delicado e importante.”
*Com informações da Revista Carta Capital.
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