Do Congresso não se pode esperar nada
que venha a valorizar as relações de trabalho no Brasil. Ao contrário,
deputados e senadores vêm tentando precarizar a vida do trabalhador sempre que
possível. A opinião é do ministro Cláudio
Brandão, do Tribunal Superior do Trabalho, que foi um dos palestrantes
no 4º Congresso da Magistratura Laboral de São Paulo, organizado pela
Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 2ª Região (Amatra-2).
Com posição garantista, ele ressaltou que o caminho para não
permitir o retrocesso na área é se apegar à Constituição. O ministro
lembrou com pesar de dois projetos de lei que tramitaram recentemente. Um
passaria a reconhecer trabalhadores não registrados, oficialmente abrindo
brecha para a existência legal de trabalho informal. O outro tentava
estabelecer que a partir de um salário de R$ 2,4 mil o contrato assinado pelo
trabalhador prevaleceria sobre a legislação.
Para Brandão, tentar precarizar a relação de trabalho é um modo
de frustrar a efetividade constitucional. “O artigo 170 da Constituição é uma
marca clara sobre a promoção da valorização do trabalho. O texto todo da Carta
Magna fala em ampliar os direitos fundamentais e caminhar em busca da justiça
social”, afirmou o ministro.
Ponderando sobre a flexibilização de direitos trabalhistas, o
ministro citou José Gomes Canotilho. Em 2004, diante de uma crise econômica, o
jurista português mudou sua posição, que era de não tolerar flexibilizações.
Passou a ponderar que é um processo possível diante de cenários
adversos e destinado a preservar trabalhos em épocas difíceis. Porém, o
trabalhador deve sempre receber algo em troca para compensar a perda.
“Essa política substitutiva deveria ser tocada pelos sindicatos,
mas eles não o fazem e também não se preocupam em defender a classe. Eles
seriam as entidades para saber o que os trabalhadores podem receber em troca
que compensaria perder algum direito, [deveriam] usar a criatividade para
chegar nessas soluções”, lamenta Brandão.
Adequação da CLT
Ressaltando as mudanças sociais pelas quais o Brasil e o mundo vêm passando, o economista Marcio Pochmann participou do debate com Brandão e falou sobre a necessidade do conjuntos de leis trabalhistas acompanhar o processo histórico.
Ressaltando as mudanças sociais pelas quais o Brasil e o mundo vêm passando, o economista Marcio Pochmann participou do debate com Brandão e falou sobre a necessidade do conjuntos de leis trabalhistas acompanhar o processo histórico.
“A CLT foi feita em um momento que a massa dos trabalhadores era
industrial. Hoje o Brasil é um país de serviços. E existem muitas outras
questões: o trabalho feito de casa, a ascensão da mulher no mercado (ela é hoje
mais escolarizada que o homem e também vive mais), o aumento na expectativa de
vida e o envelhecimento da população. Isso tudo faz com tenhamos que rever
nossas leis, ampliá-las, adequa-las”, explicou o ex-presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Pochamann falou sobre o novo momento da globalização, no qual
grandes corporações tem mais influência, dinheiro e poder que as nações. Diante
desse cenário doméstico e internacional, ele afirma que a adequação da CLT deve
ser feita olhando para frente e não para o retrovisor. “Estamos alienados pela
cultura criada pelos mercados financeiro e o resultado é que só pensamos a
curto prazo. Saber o tipo de regulação trabalhista que Brasil precisa
requer que se pare e reflita bem, até se chegar a um plano que contemple o
longo prazo”, disse.
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