O argumento de que as medidas visam acabar com as
fraudes também é rejeitado pelos sindicalistas que não consideram correto o governo tentar combater
as fraudes acabando com direitos
As
centrais sindicais devem se reunir com o governo, em aproximadamente três
semanas, e defender a
posição de que aceitam mudar regras da Previdência Social se os trabalhadores
não pagarem a conta.
O governo deve chamar uma reunião para debater com os sindicalistas o
conteúdo das medidas provisórias 664 e 665, ambas de 30 de dezembro de 2014,
que mudam diversas regras de concessão de benefícios pela Previdência Social,
como seguro-desemprego, auxílio-saúde, auxílio-doença e abono salarial. As medidas foram anunciadas pelo ministro da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, no dia 29 de dezembro.
O ministro
da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, afirmou, em entrevista à Rádio
Brasil Atual, que a atual “benevolência da regra” do seguro-desemprego faz com
que muitos jovens distorçam a finalidade do benefício, de garantir a
subsistência do desempregado. “Muitos jovens às vezes entram no emprego, ficam cinco, seis meses, pedem
demissão, recebem o seguro-desemprego durante seis meses, depois entram em
outro emprego, em seguida pedem demissão de novo, para obter o benefício”,
explicou Gabas. O ministro disse que essa distorção provoca alta rotatividade.
Para as
centrais sindicais, o seguro-desemprego é o ponto mais preocupante. A concessão
do benefício passa de seis para 18 meses de tempo de contribuição para o
trabalhador obter o direito. O governo justificou as medidas dizendo que elas
não representam perda de direitos, mas um reajuste da legislação com o objetivo
de evitar distorções e fraudes. As
mudanças não afetam quem já recebe os benefícios.
O
presidente da UGT, Ricardo Patah, entende que o mais grave das medidas é com o
jovem, que já tem naturalmente a dificuldade do primeiro emprego. "A
rotatividade no setor de serviços é muito grande", diz. Patah avalia que é
“parcialmente verdade” o argumento do governo de que a atual “benevolência” da
legislação favorece a distorção mencionada por Gabas. Mas, para ele, a solução
representa perda de direitos. “Se a pessoa está com dor de cabeça, o correto
não é tirar a cabeça”, compara.
João
Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, também
considera que as medidas afetam os jovens. Segundo ele, a mudança do abono salarial prejudica justamente os que
estão começando a vida profissional.
Hoje, tem
direito ao abono salarial quem recebeu até dois salários mínimos e trabalhou um
mês no ano. Com a nova regra, será preciso trabalhar seis meses. “O abono
abrange quem está em início de carreira, muitos jovens com até dois salários
mínimos. Os jovens conseguem emprego de pequena duração”, diz Juruna. “Sobre o
seguro-desemprego, o discurso (de Gabas) é muito anti-povo. Quando a pessoa
arruma emprego ela não está pensando no seguro-desemprego.”
Para Juruna, “não é correto o governo querer cortar a fraude acabando com
direitos”.
A CUT está
discutindo as medidas internamente e deve publicar amanhã (6) uma nota sobre
elas em seu site na internet. “Estamos analisando os pontos especificamente,
mas nos parece preocupante principalmente a questão do seguro-desemprego.”
'Nem que a
vaca tussa'
A
vice-presidente da CUT lembra que a presidente Dilma Rousseff declarou, tanto
na campanha quanto no discurso de posse, que os trabalhadores não sofreriam com
ajustes na economia. “Ela disse na campanha que os trabalhadores não
perderiam direitos ‘nem que a vaca tussa’, e no discurso de posse se
comprometeu com ‘a manutenção de todos os direitos trabalhistas e
previdenciários’”. Segundo ela, a entidade vai para a
mesa de debates, mas não abrirá mão de conquistas. “Vamos ver o que a gente
acorda. Mas, se for preciso, vamos para a rua para garantir nossos direitos”,
diz Carmen.
Na
entrevista à rádio, Gabas afirmou que as centrais foram ouvidas. “Nós chamamos
todas as centrais sindicais antes das medidas, apresentamos as medidas, e o
governo está absolutamente aberto ao diálogo”, garantiu.
Ricardo
Patah diz que houve conversas com o governo, mas que elas foram inconclusivas.
“Em alguns momentos, o Mantega
(ex-ministro da Fazenda) colocou essa pauta, mas nunca discutimos profundamente
e somos contra essa flexibilização de direitos.”
O
dirigente da Força Sindical diz que a reunião com Guido Mantega, no final de
2014, se resumiu a “uma conversa de diagnósticos, mas a discussão não se
aprofundou a ponto de o governo apresentar essas soluções”. Segundo Juruna, em
dezembro havia duas reuniões marcadas para continuar as discussões, mas foram
canceladas.
As novas regras também alteraram o chamado seguro-defeso, seguro
desemprego de pescador artesanal. O governo
diz ter detectado que pessoas alheias à atividade obtêm o benefício por meio de
fraude. O direito, agora, será concedido ao pescador que comprovar a
comercialização de peixe. Ele não poderá acumular seguro saúde e o defeso e
deve exercer a atividade "de forma exclusiva e ininterruptamente".
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